Dom Rubirosa Andante
[Verso 1: Dom Rubirosa]
Despertador toca, sete e um quarto da matina
Estou no meu quarto e o sol.. já espreita pela cortina
É mais um dia, dou graças aos meus e inicio a rotina
Tomar banho, visto-me, 'tou a precisar de cafeína
Ponho os Rayban.. q'esta luz fura-me a retina
Carro 'tá p'ra arranjar, tenho metro ao virar da esquina
Apanho o destak e agradeço ao ardina
Valido o andante, p'a viajar numa lata de sardinha
Toda gente quer entrar, à espera p'ra lá da linha
Uma grávida reclama, enquanto puxa a outra filha
Novos, velhos, tudo ao monte, é que ninguém respeita a fila
A porta fecha e um puto fica preso.. pela mochila
Mas que grande confusão parece um comboio na Índia
E a cara de aflição, que o puto ainda trazia
Grato a quem lhe pôs a mão e segue a viagem
Eu não estava a vê-lo a aguentar até à próxima paragem
Tudo apertadinho filho já nem cabe um alho
Uns p'ra escola, outros p'ra casa
Os que restam vão para o trabalho
Ah! e os reformados ya, vão atirar pão às pombas
Seguimos em modo Jumbo, ya vai tudo de trombas
Um sócio tenta o flirt mas a sócia não dá cavaco
Uma cota desquilibra-se espeta a cara.. no meu sovaco
Nunca fiando no condutor, eu vou agarrado aos ferros
Na minha frente uma sopeira põe a musica a altos berros
Ninguém aprova o gesto, mas não há lata p'ra dizer
Então começam a tossir, e ela finge não perceber
Levanta-se um burburinho, sinto o ar a aquecer
Queixas passam a ameaças e ela acaba por ceder
O alivio é geral... parece outro dia
Sol de pouca dura, voltou a melancolia
Frustração e ira, o desalento, o baixo astral
Fotografia perfeita para capa de jornal!
E eu colo no meu, na página dos classificados
Há mais anúncios de relax que à procura de empregados
Olha que ironia que eu até desconhecia
E vej'uma estudante aproveitar para pôr o estudo em dia
Lá vêm os picas com dois seguras a bater terreno
No Porto não se brinca, não pagar leva-se ao extremo
..dois gunas furam, tentam a desmarcação
Um deles escapa o outro tropeça e cai assim fica ali no chão
Sem hipótese de salvação, o segura pôs-lhe a mão
Agarra que é ladrão, começam a discussão
Pedem p'ra mostrar cartão, p'ra checar a validação
O pica 'tá-se a passar e tem toda a razão
Logo abranda a agitação, estão na troca d'informação
Morada, numero contribuinte e o cartão de cidadão
O senhor não paga agora, a multa segue via CTT
Mas os únicos papeis que o guna tem são OCB
Não ajuda à situação, só piora a posição
A bófia identifica-o ao chegar à próxima estação
Só agora tem noção, começa a pedir perdão
Mas cheira-me que não é desta que ele.. aprende a lição! não!
Pau que nasce torto raro ou nunca se endireita
E esta carruagem não alarga.. está mais estreita
É só personagens, qual colecção da Panini
Há mais roço aqui, que numa fábrica da Martini
Há minha frente tenho 3 gajos a falar mal do Porto
Ao meu lado um casal mama na língua um do outro
Atrás uma cota comenta "mas que pouca vergonha"
E eu ali no meio... armado em panhonha!
Começo por pedir licença, início a desmarcação
Logo duas turistas param-me barram-me com um mapa na mão
Querem saber informação sobre a localização
Dos Clérigos, de São Bento e do Estádio do Dragão
Duas morenas grossas, arraçadas de avião
Falavam um inglês mas com sotaque d'alemão
5 dias sem compromissos, apenas diversão
Dei-lhes logo ali o meu número apenas.. por precaução
Que eu sou bom anfitrião mas depende da ocasião
E esta até merecia um pouco mais da minha atenção
Até faltava ao bules, fazia-lhes a visita guiada
Mas já tinha duas faltas e mais uma não dava com nada
Meu sentido de humor, o patrão não ia achar piada
E o mais certo era ele pôr as minhas merdas à entrada
Resolvi não arriscar, despedi-me com um sorriso
Que apesar da tentação, consegui ter juízo
Endereço-me para a porta, com a esperança que me liguem
A combinar um programa a três.. imaginem
Mas logo desço à terra com este som no ouvido
Próxima paragem... Casa da Música, cheguei ao destino!