Zeca Baleiro Minha Casa
[Verso 1]
É mais fácil cultuar os mortos que os vivos
Mais fácil viver de sombras que de sóis
É mais fácil mimeografar o passado
Que imprimir o futuro
Não quero ser triste
Como o poeta que envelhece lendo Maiakóvski
Na loja de conveniência
Não quero ser alegre
Como o cão que sai a passear
Com o seu dono alegre
Sob o sol de domingo
Nem quero ser estanque
Como quem constrói estradas
E não anda
[Ponte]
Quero no escuro
Como o cego tatear estrelas distraídas
Quero no escuro
Como o cego tatear estrelas distraídas
[Verso 2]
Amoras silvestres
No passeio público
Amores secretos
Debaixo dos guarda-chuvas
Tempestades que não param
Pará-raios quem não tem
Mesmo que não venha o trem
Não posso parar
Tempestades que não param
Pará-raios quem não tem
Mesmo que não venha o trem
Não posso parar
[Verso 3]
Vejo o mundo passar
Como passa uma escola de samba que atravessa
Pergunto: onde estão teus tamborins?
Pergunto: onde estão teus tamborins?
Sentado na porta de minha casa
A mesma e única casa
A casa onde eu
Sempre morei
[Saída]
A casa onde eu
Sempre morei
A casa onde eu
Sempre morei